Como se tornar um roteirista de HQs (parte II)
Roteiristas profissionais não escrevem só “quando dá tempo”
Oi, tudo bem?
Como prometido, aqui está a parte II da introdução inédita do meu Guia Básico e Prático de Roteiro para Histórias em Quadrinhos, que está entre as recompensas da minha campanha no Catarse.
Antes de seguir, quero falar sério com você: a campanha da HQ Clair de Luna chega na metade do período de arrecadação na próxima quarta-feira, e eu preciso muito de toda a ajuda possível para atingir a meta.
Por isso, se você está planejando apoiar, a hora é agora! Aproveita o começo do mês e o cartão que virou pra chegar junto!
Se você já apoiou algum dos meus outros sete projetos, sabe que sempre entrego as recompensas e que só produzo impressos lindos, então o que está esperando? A produção do projeto está garantida pelo edital de Quadrinhos da Gibiteca de Curitiba — ou seja, vai sair de qualquer jeito! O problema é que o edital só cobre a produção da HQ e a distribuição gratuita em escolas.
Assim, além da minha gratidão, o seu apoio na campanha do Catarse será revertido na impressão de 500 exemplares da HQ para que eu possa comercializá-la nas próximas feiras.
E se ainda não consegui te convencer, espera só até você ver as primeiras 24 páginas do quadrinho:
A ilustradora Amanda Barros e a colorista Clara Viana estão fazendo um trabalho incrível com o meu roteiro. Preste atenção na transição das cores, nos detalhes indicando a passagem do tempo, nas expressões! Com certeza Clair de Luna vale o seu apoio, né?
Como se tornar um roteirista de HQs (parte II)
Perdeu a parte I? Leia aqui.
Se comprometa com a sua escrita (e com você mesmo)
Você escolheu ser roteirista, certo? Tenho certeza de que ninguém te obrigou a isso. E também aposto que você tem seus corres, com família, amigos, trabalho e estudos. Para muitos, escrever pode até ser um passatempo legal, terapêutico até — por que não? Mas estamos aqui para sermos roteiristas profissionais, certo? E roteiristas profissionais não escrevem só “quando dá tempo” ou “entre um filme e outro no fim de semana.” Roteiristas profissionais organizam seu tempo para escrever.
E é aí que você vai ter que fazer escolhas. Vai ter que avisar as pessoas ao seu redor que precisa de um tempo só para você. Talvez tenha que assistir a menos filmes, menos séries, menos vídeos no YouTube. Quem sabe, passar menos tempo nas redes sociais e deixar os joguinhos de lado. E, com certeza, vai precisar ficar mais tempo sozinho.
Trabalhar com escrita é aceitar, talvez, uma vida meio na contramão do mundo. Porque, entre ideias, pesquisas e escrita de um roteiro para histórias em quadrinhos, é preciso ficar muito tempo sozinho — como estou sozinha agora, escrevendo, sem nenhuma certeza de quando, quem e se alguém me lerá.
Eu sei, posso soar meio rígida, mas o fato é que, na maioria das vezes, a gente só consegue organizar as ideias e realmente se concentrar quando está sozinho. Se você topar passar um tempo só consigo mesmo, tem boas chances de se dar bem como roteirista.
Reservar esse tempo e se desligar do mundo também precisa ser um hábito — e preferencialmente um hábito diário. Se reservar duas horas por dia for muito para você, reserve quinze minutos para sentar e organizar as ideias. O que importa não é quanto tempo você tem, mas sim como você usa esse tempo.
No final do dia, se comprometer com a escrita dos seus roteiros e se comprometer com você. A partir do momento que você atingir esse nível de compromisso com o seu projeto de história em quadrinhos, todo o resto virá naturalmente.
Publique suas HQs (o ciclo só se completa quando somos lidos)
Aqui vai mais uma questão polêmica: publicar suas histórias. Tem quem escreva só pelo prazer de criar sem se preocupar em mostrar o trabalho para ninguém — e está tudo bem. Mas, mesmo que cada um tenha seu processo, eu acredito que a experiência completa da escrita só acontece quando alguém lê o que escrevemos.
A gente só evolui como narradores de histórias através do olhar dos outros. Como escrever é um ato solitário, é fácil ficar preso na própria cabeça, onde tudo faz sentido — e muitas vezes precisamos de ajuda para sermos tirados de lá.
Quando você convida outras pessoas para lerem a sua história, você sai do “Será que minha história funciona?” e se abre para receber as reações reais dos leitores. Alguns vão amar, outros não, e isso é normal. O que não é normal é você não aprender nada com isso.
Críticas não são fáceis, mas elas motivam. Se várias pessoas dizem que algo precisa melhorar, isso é um bom indicativo de onde você precisa investir mais tempo.
No ambiente digital, há várias maneiras de publicar e distribuir suas HQs: Tapas, Webtoons, Fliptru, redes sociais, blogs, newsletters. Escolha a que mais combina com seu público, seu projeto, a que mais te agrada — ou procure pessoas de confiança para mostrar o seu trabalho, se ainda não se sentir muito seguro.
A grande diferença entre mostrar a história pronta para amigos e para desconhecidos é que a tendência dos amigos é de não fazer comentários neutros — ou seja, talvez eles não queiram ser desagradáveis e tragam mais elogios do que pontos a melhorar. Por outro lado, olhares de desconhecidos sobre a história podem te ajudar a evoluir como roteiristas.
Assim, é possível pensar nesses quatro momentos como motores do seu ciclo criativo de roteirista de HQs. Na sua rotina de estudos, prática, criação e divulgação, os momentos se retroalimentam, de forma que é impossível evoluir em um aspecto sem dar atenção a outro — por exemplo, é impossível criar sem referências, publicar sem ter criado, arranjar um tempo sem saber o que estudar ou criar etc. Quando nos descobrimos narradores, entendemos que vivemos consumindo e contando histórias.
Há várias especificidades sobre a linguagem dos quadrinhos, das quais falarei mais adiante, que utilizamos nos roteiros. Por enquanto, vamos fortalecer a base da sua rotina como roteirista:
🌟 Leia com atenção e aprenda com quem veio antes;
🌟 Escreva com frequência, se possível, todos os dias, para desenvolver suas habilidades;
🌟 Reserve um tempo só para você, desligue-se do mundo e comprometa-se com a escrita;
🌟 Publique suas HQs e busque leitores que possam te ajudar a melhorar.
Eu sei que, colocado assim, parece que vai tomar muito tempo — e vai. Mas, como diz Stephen King em Sobre a Escrita, ler e escrever deveriam ser tão divertidos para o escritor quanto tocar é para um músico. Quando você gosta do que faz, mesmo sendo trabalhoso, tudo fica mais leve. Você pode cansar ou ter preguiça de vez em quando, mas nunca sentirá como se estivesse carregando um fardo.
Depois de tudo isso, espero que você esteja pronto para começar a transformar suas ideias em roteiros para histórias em quadrinhos. A partir de agora, vamos conversar sobre a linguagem dos quadrinhos e as técnicas básicas de construção de narrativas enquanto você exercita a sua escrita.
Abraços,
Mylle Pampuch.